quarta-feira, 20 de agosto de 2014

tpm

A Ruth Manus escreve pro Estadão semanalmente às quartas.
Ela sempre tem um texto que te faz parar e pensar na sua vida, nos nossos comportamentos, relacionamentos  e etc.

O texto dessa semana se chama Cartas para mim mesma em dias de TPM e diz mais ou menos assim:

Lembro-me daquele filme com a Drew Barrymore, em que, por causa de um acidente, ela perdia a memória toda noite e acordava sem entender nada. O marido fez, então, um vídeo para ela com o resumo do que tinha acontecido desde o acidente: a perda da memória, o casamento deles, a filha que eles tiveram… Então ela assiste, se emociona, se situa e começa o dia bem.
Acho que em dias de TPM cruel é assim que ficamos. Desnorteadas, sem lembrar direito quem somos, tomadas por essa súbita sensação de que está tudo super errado. Foi com base nessa ideia que escrevi uma pequena carta para ler nessas manhãs em que beiramos o desespero e a total falta de bom senso, visando nosso bem estar e a sobrevivência digna dos coitados que nos cercam nessas horas. 
Será que pode adiantar alguma coisa? Pelo bem de nossos corações e pelo bem da humanidade, tentemos.

“Bom dia, linda. 
Linda, isso mesmo. Você é linda, pra começo de conversa, apesar do inchaço, das espinhas e das olheiras.
E o dia vai ser bom sim, por mais que não pareça. Está tudo ok, gatinha, sem neurose.

Eu sei que seus pés estão parecendo bisnaguinhas, seus seios estão super doloridos e seu apetite totalmente alterado. 
Eu sei que você está tomada por uma irritação monstruosa e está tentando se controlar para não jogar um copo (ou uma pessoa) contra a parede. 
Eu sei que bate uma vontade de chorar a cada 10 minutos, que parece que o mundo te virou as costas e tudo está indo de mal a pior
Eu sei que você olha para o espelho e vê um misto de Shrek, Vandinha Addams e Alf, o ETeimoso. 
Eu sei que você provavelmente quer se vestir de preto dos pés à cabeça, porque é o mais perto que você consegue chegar de uma burca. 
Eu sei que você se culpa por todos os problemas do mundo. Pelas crianças famintas na África, pelo aquecimento global e pela ameaça de extinção do mico leão dourado. 
E o pior: que você se culpa por não conseguir domar minimamente suas emoções.

Escuta, linda. 
Shit happens. Não se culpe não.
Vamos tentar pegar leve. 
Sei que se eu te disser pra ir correr no parque, tomar um suco verde e fazer uma drenagem, você me mata.
Sei que você quer cama, edredom, panela de brigadeiro e controle remoto.
Mas vamos tentar não nos afundar muito, tá? Um suco de maracujá vai ajudar. Uma amiga por perto também.
Beba bastante água, você precisa desinchar. E, sério, não caia na cilada de achar que o café e o álcool vão ajudar. Não vão, você sabe disso.

Não discuta relação hoje. Não pense sobre o futuro da sua carreira. Não critique seus pais. Aguarde 2 dias para tudo isso.
Não assista Meu Primeiro Amor. Nem Bambi. Nem Ghost. Nem Titanic. Muito menos O Menino do Pijama Listrado.
Não ouça a Adriana Calcanhotto arranhando os seus discos. Nem a Whitney Houston gritando que vai amá-lo para sempre. Nem o Djavan desaguando no oceano. Muito menos aquela música da Carolina Dieckmann raspando o cabelo na novela.

Evite cartas antigas.
Evite exageros.
Evite o cartão de crédito.
Evite seu ex.
Evite mudar o visual.
Evite o saleiro.

Mas se quiser chorar, chore. De preferência no banheiro, para não ter que se explicar. E se alguém perguntar por que você está com essa cara deformada, diga que é alergia a pólen.
Se estiver com muita raiva, grite no carro ou com a cara no travesseiro. Dê uns socos no colchão. Mas não faça malcriação para as pessoas queridas. Nem grosseria com o seu chefe ou com o seu estagiário.
E não use a TPM como desculpa para fazer o que bem entender. Nem para fazer o que geralmente não tem coragem. TPM não é salvo conduto para fazer coisa errada. Você está desequilibrada, mas não se tornou uma inimputável.

Mas a verdade é que a TPM existe.
E a gente sofre, por mais que muitos digam que é exagero.
(e por mais que muitas, de fato, exagerem.)
Então cuide de você, menina. Se faça carinhos.
Um banho gostoso no escuro (sem demorar muito, especialmente se você morar em SP), com uma musiquinha inofensiva, tipo Aretha Franklin cantando I Say a Little Prayer.
Se dê uma boa noite de sono. Vá pra cama mais cedo, com aquela camisola mais gostosa do mundo, meião esticado e 4 travesseiros.
Abrace as pessoas amadas, que não vão te julgar se você der uma choradinha sem sentido e começar a balbuciar coisas ininteligíveis. 
Assista O Diário de Bridget Jones. Impossível não se sentir melhor.
Leia umas páginas de Cora Coralina. Uns versos de Vinícius. Umas crônicas do Veríssimo.

Não se inquiete tanto.
Não se autoflagele.
Não se puna.
Não se culpe.
Não se estrague.

E, acima de tudo, lembre-se, gatinha: você está enxergando tudo 3 vezes maior do que é: seus problemas, suas dúvidas e principalmente os seus quadris.

Vamos lá, bonita! Bom dia! Em alguma medida, te juro que está tudo bem! ♥”

domingo, 17 de agosto de 2014

sobre egoísmo, velórios e amor.

Somos muito egoístas. A gente faz as coisas mais pela gente do que pelo outro. Todo mundo é assim.
Por exemplo, a minha avó fala que temos que ir a enterros, pois se não nos lembramos de ninguém não seremos lembrados. Mas, para mim, a hora de fazer isso não é no velório, é durante toda a vida. Ainda assim, nós vamos.
Porque quando vamos a um velório estamos enterrando um pouco de nós mesmos, um pouco da nossa vida aos olhos daquela pessoa que já se foi. Também vamos à velórios para mostrar a quem continua vivo que a ele ou ela não está sozinho, que aquele que morreu só existe agora dentro de nós, que continuamos vivos, de forma singular.
A única maneira que encontro para fugir do egoísmo é amando. Mas amando de uma forma altruísta, o que é muito difícil, já que até no amor estamos mais preocupados em ser amados, em ter nosso sentimento correspondido à altura.
Para vencer o egoísmo temos que amar. Amar a liberdade do outro, amar até o egoísmo do outro. Simplesmente amar.

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